“Apagão”: Descubram as causas, mas não toquem no negócio!

O “apagão” de segunda-feira privou o país de energia elétrica, por longas horas. São amplamente conhecidas as enormes perturbações na vida de pessoas, instituições e empresas, embora estejam por contabilizar os enormes prejuízos na vida e na economia. Provavelmente nunca chegaremos a conhecer a sua dimensão.

Podia ter sido pior? É verdade. Que se saiba, não morreu ninguém.

Mas, comunicações em colapso, transportes parados e todos os serviços de saúde a funcionar com recursos de emergência bastam para nos dar uma pequena ideia dos enormes riscos que corremos. E que não deveríamos voltar a correr.

Também é verdade que os profissionais de serviços críticos responderam de forma exemplar. E que, de uma forma geral, não se gerou pânico, até porque, a meio da tarde, já corria a informação de que o fornecimento de energia elétrica  estaria a ser progressivamente reposto. A esperança continua a ser um poderoso lenitivo…

As causas próximas do “apagão” continuam desconhecidas. Sabe-se apenas que teve origem em perturbações na rede elétrica em Espanha de onde, a meio de segunda-feira, estava a ser importada muita da energia elétrica. A essa hora, no Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL) era mais barato importar de Espanha do que produzir no território nacional.

Depois, a reposição do serviço teve de ser progressiva, opção técnica correta, mas geradora de numa espera que nalguns casos ultrapassou as 10/12 horas.

Agora, prometem-nos os governantes em Espanha e em Portugal, vão ser nomeadas umas comissões “técnicas independentes” para fazerem um “rigoroso inquérito” ao que terá ocorrido, para impedir que o caos se repita e para “apurar eventuais responsabilidades”

Obviamente, é positivo que técnicos competentes sejam chamados a analisar a sequência de eventos que levou ao “apagão”. É bom que se tirem conclusões que minimizem o risco de nova ocorrência, de dimensão eventualmente maior e de mais gravosas consequências.

Porém, é significativo que do escopo destas comissões seja explicitamente retirado um aspeto crucial: o de apurar qual a lógica que deve imperar na produção e distribuição de energia elétrica, um setor absolutamente vital para a vida quotidiana e para a segurança nacional.

Para as empresas privadas que operam o “negócio da energia” o superior objetivo é e será sempre o lucro. Por muito que lhes ponham à frente os chamados “reguladores” e se autoelogiem os seus mecanismos de segurança.

Significativamente, a continuidade desta operação vital nas mãos do setor privado une PSD e PS.  Pedro Nuno Santos é, aliás, mesmo muito explícito: exige que se avalie tudo… desde que não coloque em causa o domínio dos privados no setor energético.

A nossa ver, o setor da energia elétrica deveria ser operado por empresas públicas, com uma lógica de serviço público que colocasse acima de tudo a fiabilidade e a segurança do fornecimento.

A segurança do fornecimento de energia elétrica ao País prevaleceu na segunda-feira? É óbvio que não. A opção por comprar muita (demasiada?) energia a Espanha, onde naquele momento era mais barata, garantiria provavelmente bons lucros aos operadores. Mas, a gula saiu muito cara ao nosso País.

Em conclusão. Se o Estado não tomar conta do “negócio”, mais dia menos dia, teremos novos “apagões”. Com mais ou menos inquéritos, com mais ou menos comissões.

 

Original publicado por Rede Ecossocialista

Deixe um comentário