Ainda a propósito da Despenalização da Morte Assistida

A posição do Partido Comunista Português votando contra todos os Projectos – Lei sobre a Despenalização da Morte Assistida não deixa de ser surpreendente sob todos os pontos de vista.

O próprio Bispo de Leiria, sorrindo, acaba por revelar-se, surpreendentemente, um perigoso iconoclasta, quando admite que grande parte da argumentação usada pelo Partido Comunista ( não meter no mesmo rol os Verdes) tem como inspiração os princípios que conformam a posição da Igreja e , tradicionalmente, os próprios fundamentos da ideologia cristã.

Mas, se quisermos recuar no tempo, veremos que semelhante posição não é tão desconchavada como à primeira vista se pode pensar.

O Bloco de Esquerda , como é seu timbre, põe a tónica na dignidade de cada pessoa enquanto dona do seu destino;

O Bloco de Esquerda não admite que a religião – uma força supra racional  e desajustada após o avanço do conhecimento e das ciências sociais – possa implicar mais e mais sofrimento para quem já não pode mitigar qualquer tipo de esperança;

O Bloco de Esquerda não confunde ideais com direitos, nem sofrimento com prisões religiosas, nem dignidade com dogmas;

O Bloco de Esquerda tem o justo entendimento daquilo que está em causa e que não é senão o direito que cada um de nós deve defender de ser livre até na morte.

Ao contrário, o Partido Comunista Português, assume aquilo que se pode considerar um alívio para a direita mais extremada e menos evolutiva, ao apoiar a ideia da não despenalização.

Mas, ao contrário do que a direita pensa e, por acréscimo, o senhor Bispo de Leiria, o Partido Comunista Português assume esta posição não por respeito à dogmática e mal interpretada letra do Novo Testamento, mas porque entende que há um outro “Deus” que não pode ser fragilizado quando parece que está em causa – coisa pouca se nos lembrarmos dos martírios dos planos quinquenais e do estouro mili-vitimador de Chernobyl – : o poder deificado do Estado.

Neste caso, a posição do Partido Comunista é apenas de prevenção: ainda corre a um ritmo diferente da realidade no rio da loucura colectiva que ajusta o individuo ao Estado, pretendendo que o mando se sobreponha aos direitos da individualidade.

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