Macron perdeu-se e nisso não há nenhum perigo. Pelo contrário. O que resta da Europa da paz contraía-se agora em sonhos militaristas muito por iniciativa do Presidente Francês. Não vamos, pois, pretextar com a anarquia hegemonista de uma débil, embora louca, Rússia, para continuar uma tentativa de recuperação económica gaulesa sustentada no seu potencial belicista. A premonição de “1984” está, definitivamente, afastada.
Também não se pode pretender colher as patacas todas na árvore da classe trabalhadora e pensar que ninguém dá por isso só porque, em determinada altura, julgaram convencê-la definitivamente que estaria mergulhada na ilusão de privilégios antigos atirando petardos lacrimogéneos contra a esquerda partidária indecisa na sua matriz socialista.
A Europa tem várias batalhas antes do pesadelo da guerra. E se vencer só que seja as da excessiva austeridade, a da transição energética e a da demografia, arruma definitivamente as botas da NATO e do Imperial sonho dum Trump (se este resistir na reeleição) em rota acicatante com todo o Mundo.
Todos os líderes estão a prazo. Eles mesmos sabem que enquanto contratados a prazo têm sempre a credibilidade e a utilidade em risco. Macron e Victor Urban, embora em planos diferentes na sonegação de direitos, vão ser vítimas da arquitectura capitalista como única resposta ao desequilíbrio social.
Convém que não se iludam e queiram fazer lei apenas com palavras e vitórias circunstantes; não queiram oferecer apenas moralismos em retaliação aos desequilíbrios que fomentaram; não queiram mostrar músculo para esconder desígnios capitalistas que apadrinharam; não se desculpem com ideologias para esconderem contradições.
Uma preocupação maior da Europa devia passar pela ameaça historicamente referida por vários europeístas cultos: a de que a Europa é apenas um cabo da Ásia.
A contradição de políticas anteriores permite, por exemplo, que Portugal não caiba em si de contente por ouvir a China submetida à intenção de gastar uns trocos para ajeitar melhor os seus interesses cá dentro. À China já não chegam os milhões que todos os dias leva na EDP.
Em contrapartida, a Europa, militante incondicional dos despropósitos hegemonistas dos EUA e da Grã-Bretanha em guerra aberta com Putin, persiste nos boicotes à Rússia e ao Irão desprezando os próprios interesses e arrastando países como Portugal que estão dependentes das exportações para equilibrar não só a balança de pagamentos mas para reduzir o endividamento.
Temos vários inimigos dentro de portas mas o povo, dando o exemplo aos governantes ceguetas, encarregar-se-á de colocá-los no devido lugar venham eles da Hungria, da Polónia, da Itália ou da França .