Chegados a 2018 no declínio da globalização neoliberal e na ressaca da ultima crise internacional, que sentido é o da esquerda portuguesa que o Bloco quer protagonizar e que país é o Portugal onde pretende protagoniza-la?
Pergunta premente, pois a procura dum sentido para esta resposta é mais que suficiente para a construção dum caminho politico a percorrer e a construir. E a Historia é essencialmente Caminho.
Que esquerda é o Bloco no mundo do trabalho, nos direitos sociais e políticos, na defesa, na educação, cultura e economia, na organização e planeamento do território? Que esquerda é a do Bloco no ambiente e na política internacional? E no ambientalismo e ecologia? Todas estas perguntas exigem de nós o desassombro de olhar Portugal como ele é.
Detenhamo-nos por agora e nas próximas linhas no mundo do Trabalho no nosso país.
No panorama da esquerda o Bloco tem-se caracterizado pela sua militância ativa e mobilizada (pegando por aí mesmo a Direita ofende-nos chamando-o de partido “radical”) na defesa de causas em todas as áreas da vida politica. Tem caracterizado a sua prática pela democracia interna e intervenção militante aberta e participada e tem defendido posições modernas que interpretam o Sujeito na sua constante histórica e inalienável Liberdade individual, ambas enquadradas no esforço do coletivo na construção societária.
Na sua prática política usando-se de instrumentos tradicionais ou de social media, o Bloco (um partido jovem) possui uma vitalidade e um alcance raros no espectro dos partidos políticos em Portugal. Ele é hoje sem duvida a voz duma geração, a voz da geração que chegou á vida adulta e conduz agora o leme da construção do futuro.
Mas se somos um partido de causas, importa não deixar de ser um partido com matriz ideológica viva, discutida e construída.
O Bloco não pode funcionar e atuar no plano do real de forma reativa, mas antes sistémica.
Não que se pretenda o mastigar da ideologia fechada, trauteada e dogmática, (como o fazem outros partidos da esquerda portuguesa, lamentavelmente cristalizados) mas sim que a partir da matriz da esquerda marxista e desse património universal se rume a uma conceptualização organizativa que atualize as suas premissas fundamentais da sua visão da sociedade e da economia.
Assim as grandes questões da esquerda (ontem como hoje) mantêm-se: Que divisão social do trabalho? Que luta de classes? Que classes? Que capital? Mas húmus social dos dias de hoje é bem outro todavia. O Homem novo somos nós e hoje.
As respostas dependerão das perguntas certas.
É o trabalhador dos nossos dias o mesmo proletário do séc. XIX/XX? No caso português Identifica-se na relação laboral com o mesmo empoderamento pós 25 de abril de 1974?
São o tempo de prestação e o horário de trabalho dessa relação tao definidos e rígidos quanto no “antigamente”? Ou foram as fronteiras do tempo de trabalho esbatidas e invadiram os espaços pessoais e familiar dos trabalhadores, mercê justamente dos meios de conectividade pessoal móvel e imediata criados?
Qual o peso do desemprego provocado pela revolução tecnológica iniciada nas últimas décadas do séc. XX? Esse progresso tecnológico tem contribuído para o financiamento do sistema público de segurança social ou sistema fiscal do Estado Português? Ou pelo contrário, para além de extinguir postos de trabalho tem servido somente para aumentar lucros das empresas? Deve a substituição de postos concretos de trabalho por equipamentos informáticos ser tributado em sede fiscal e gerar e contribuições para a segurança social?
A severa desregulação dos horários de trabalho que com agudeza brotaram no tecido laboral português após as medidas legislativas neoliberais do PSD e do CDS de Passos Coelho e Paulo Portas teve que efeitos na saúde publica? E que efeitos têm ainda hoje na saúde individual de sujeitos que por viverem mais e serem cada vez menos a contribuir, trabalham cada vez até mais tarde na idade?
O abuso reiterado nas rotações de turnos de trabalhadores com folgas e horários rotativos, em sectores de atividade de laboração continua (serviços e industria) com supressão de tempos mínimos de descanso e redução de dias de férias, quem contabiliza o atentado à saúde desses trabalhadores e a frustração dos seus projetos familiares?
O valor da remuneração da prestação extraordinária de trabalho, drasticamente desvalorizado também pela Direita de Passos Coelho (e ainda bem longe de reposto) não veio criar um evidente abuso da prestação barata de trabalho suplementar? Impedindo assim o crescimento do emprego? Não continua a ser mais vantajoso pedir aos mesmos que trabalhem mais a baixo custo do que pagar a mais para fazerem o mesmo?
O grande sector com peso sobredimensionado e assustador na fragilíssima economia portuguesa – o Turismo, que qualidade de postos de trabalho tem gerado? Qual o nível de vencimentos pago no sector? Qual o panorama da violação dos direitos laborais no sector? (sector que emprega muitos jovens em situação de primeiro emprego, sem experiencia previa e pouca mobilização reivindicativa) Qual a qualidade e eficácia da fiscalização exercida pela ACT nesse sector? Que números?
Depois que Bloco queremos na intervenção sindical?
Que análise fazemos da representatividade sindical atualmente? Os trabalhadores portugueses revem-se na atuação sindical ou reconhecem-lhe importância e utilidade? Os portugueses acreditam nos sindicatos como organizações representativas?
Os portugueses acreditam (alguém acredita?) na representatividade quer a nível sindical mas quer também a nível laboral das entidades presentes na concertação social?
As confederações patronais são credíveis? Acreditamos e continuaremos a acreditar nessa ficção?
Acreditamos pois no acordo recentemente assinado entre governo, patrões e UGT, e que o governo PS está realmente a reverter as políticas de Direita diligentemente impostas ao país pela Troika e o PSD/CDS? Ou também nós estamos em negação?
Assim lato senso, importa refletir: em Portugal e em 2018 o trabalho gera riqueza para quem apenas tem a sua força de trabalho para vender?
Ou gera pobreza sustentada? Sobrevivência?
Um trabalhador português aufere salario que possibilite o acesso a (suponhamos) bens culturais sem perigar a alimentação ou habitação? Ou tem de optar?
E falando em habitação, a gigantesca voragem especulativa no sector imobiliário nos principais centros urbanos do país (Lisboa e Porto) está ou não a gerar uma crise de habitação e a devorar rendimento nas famílias assalariadas? Estão ou não estão os portugueses a ficar mais pobres?
O inquérito do INE sobre condições de vida e de rendimento dos portugueses, publicado no ano passado, revelou-nos uma realidade já suposta: dois milhões e quatrocentos mil portugueses em risco de pobreza (números não dos anos 70 ou 80 do séc. passado, mas de 2017!)
Estes portugueses em risco trabalham? Se sim, quem são, onde trabalham e porque estão ainda assim em risco? Aceitamos isso? É aceitável civilizacionalmente? Há um grave problema de pobreza em Portugal claramente gerado pelo mercado de trabalho e a sua regulação neoliberal (que diga-se o PS não está genuinamente interessado em reverter)!
Se mergulharmos mais fundo e quisermos refinar a pesquisa, que côr têm os pobres? Vivem onde? Que idades têm? E onde trabalham? Que retrato? Que politicas têm sido aplicadas em função dos dados?
O combate à precariedade que o Bloco erigiu como bandeira nos últimos anos ainda mal começou. E as frentes são inúmeras.
Cremos que, colocadas as questões certas e suportada a ansiedade que provocam por serem tantas, as respostas estão á nossa frente e são alcançáveis.
Considero que alcançaremos se a via a percorrer for a via da esquerda. Uma Esquerda socialista, humanista, pelos trabalhadores e pelo respeito pelo Trabalho como fator fundamental do processo produtivo, mas que seja também ativamente interventiva na ecologia e na defesa do Ambiente, a bem da sustentabilidade do planeta e justa divisão da riqueza entre as nações.
Saibamos sê-lo sem pudores e resgatar o ambientalismo e a ecologia de estruturas politicas que os mantem sequestrados.
Por Bloco afirmativo e ciente de si e sem pudor em afirmar-se como a Esquerda do futuro para Portugal.
O país espera por nós, não o façamos esperar mais!