A Cooperativa Fruta Feia salvou, em quatro anos e meio, mais de mil toneladas de hortícolas que teriam como destino o lixo, pela sua aparência.
“Se no início era uma ideia, uma vontade, havia um risco associado, não sabíamos se a coisa ia resultar. Chegar às mil toneladas, aos 11 trabalhadores, aos 11 pontos de entrega e aos cinco mil associados, significa que não somos só uma ideia, é mesmo um modelo que funciona, uma proposta de consumo em que muita gente se revê e que tem provado a sua sustentabilidade tanto social, como financeira”, disse à agência Lusa Isabel Soares, uma das mentoras do projeto.
A cooperativa Fruta Feia, que tem hoje 158 agricultores como parceiros, resulta de uma ideia de quatro amigos para aproveitar cerca de um terço da fruta e vegetais que os supermercados desperdiçam, por considerarem que não têm o aspeto perfeito que os consumidores procuram ou o calibre necessário.
Isabel Soares explicou que com o dinheiro das receitas a Fruta Feia paga os custos de funcionamento, “um valor justo aos agricultores pelos seus produtos” e “um salário justo” aos trabalhadores, que possuem um contrato sem termo.
“É essa a prova de que o modelo funciona. É que mil toneladas já é muita fruta, não é ‘salvamos uns quilinhos do lixo’. Não é isso, já dá que pensar e há muita gente que se está a interessar pelo nosso modelo”, frisou.
“Todo o dinheiro que fazemos é para pagar os nossos custos, não há lucro para ser repartido pelos fundadores da cooperativa”.
Neste momento, a Fruta Feia tem cinco mil associados e são salvas 15 toneladas por semana do desperdício. De acordo com Isabel Soares, há agricultores que só com o dinheiro da Fruta Feia conseguiram contratar mais um funcionário.
“Há muitos agricultores que através de nós, a maior parte mesmo, escoam tudo o que é ‘feios’. Isso é ótimo, sentir que há coisas que não estão a ir para o lixo por uma razão estética porque nós estamos lá e estamos a agir”, acrescentou.
Ainda existem agricultores interessados em participar no projeto, mas que, apesar de cumprirem o requisito de não terem práticas agressivas com o meio ambiente, têm de ficar de fora, já que a Fruta Feia segue uma política de consumo de proximidade e a cooperativa não se desloca mais de 70 quilómetros dos pontos de entrega para ir buscar os ‘feios’.
Este é, também, a aplicação de um projeto de circuito curto de abastecimento alimentar, que fornece alimentos frescos, produzidos em proximidade e na época.
“Gente bonita come fruta feia” é, bem apropriadamente, o lema do projeto.
- Notícia com base na Lusa