Mais um 8 de março! É assim, desde que, em 1910, a feminista socialista Clara Zetkin propôs, numa conferência mundial em Copenhaga, que passasse a existir um dia internacional de luta das mulheres pelos seus direitos.
As origens históricas divergem. Uma greve de mulheres em Nova Iorque a 8 de março de 1857 onde 129 mulheres teriam morrido queimadas numa fábrica em greve mandada incendiar pelos patrões. Desta greve não surge confirmação documental, mas apenas de uma outra greve, na mesma cidade a 25 de março de 1911, na Triangle Shirtwaist Company, quando 146 trabalhadoras/es morreram, revelando as más condições enfrentadas pelas mulheres na Revolução Industrial.
Outros acontecimentos também poderiam reforçar o dia internacional das mulheres, quando em 1909, em 25 de fevereiro, se dá a primeira grande marcha com 15 mil mulheres em Nova Iorque ou as greves das operárias russas que, em 1917, encheram as ruas contra a fome e a guerra.
O que podemos concluir é que o dia internacional das mulheres esteve sempre ligado, nas suas origens históricas, às lutas das mulheres, em especial das operárias.
Por isso, causa-me alguma perplexidade que certas autarquias de esquerda embalem numa certa “mercantilização” da entrega de flores, quando nesse dia se podia proporcionar às mulheres sessões de cinema de contornos históricos sobre as suas lutas ou mesmo debates e tertúlias temáticas sobre os problemas que as afetam.
Neste 8 de março, vamos todos/todas sair à rua, manifestando-nos sobre o muito que ainda falta alcançar. E as razões para continuar a lutar são muitas.
– A violência machista contra as mulheres que humilha, espanca e mata.
– As múltiplas discriminações que pesam sobre mulheres imigrantes, de diversas origens étnico-raciais, deficientes, trans, lésbicas, trabalhadoras sexuais, trabalhadoras domésticas, mulheres das zonas rurais do país.
– O assédio sexual que alastra gerando violações entre as mais jovens e não só.
– As discriminações salariais e no trabalho que continuam a ter um grande peso no país.
– A precariedade que torna os quotidianos das mulheres e das jovens em incertezas difíceis de superar.
– As relações patriarcais ligadas aos conservadorismos atuais que colocam em causa direitos há muito alcançados.
– A pobreza a nível mundial que atinge, em especial, mulheres e crianças de forma vergonhosa, quando a alta finança acumula lucros fabulosos.
– As alterações climáticas originam situações ainda mais difíceis na busca da água e na preservação das sementes, em especial para as mulheres rurais dos países africanos.
– Os direitos sexuais e reprodutivos, entre os quais o aborto, que são negados a milhares e milhares de mulheres no mundo.
– O apedrejamento de mulheres até à morte porque estas ousaram ter outros relacionamentos sexuais.
– As práticas nefastas como a mutilação genital feminina e os casamentos precoces por imposição das famílias.
Estas e muitas outras situações no contexto mundial mostram-nos como os direitos das mulheres são diferentes em muitos países e que os feminismos assumem diversas configurações.
A nível internacional, existe algo que pode unir as mulheres: a luta contra um sistema patriarcal e capitalista que impede a sua autonomia, que as subalterniza, que as oprime e que as explora. Para muitas e muitas delas ainda não existe consciência das causas das situações vividas. É ainda um longo percurso, durante o qual as contradições se vão acumulando entre direitos que existem e estão por cumprir, entre discriminações que se acentuam e a incapacidade deste sistema para as resolver.
Unamo-nos numa grande maré feminista neste 8 de março, dia de greve feminista para muitas mulheres em todo o mundo! Em Lisboa, às 15h no Largo Camões.