Se o ato de terror praticado pelo Hamas sobre vítimas inocentes em Israel a 7/10/2023 exige condenação inequívoca, não é possível – como lembrou António Guterres – ignorar a longa ocupação colonial de Israel sobre a Palestina desde 1947, patrocinada pelo Reino Unido e demais potências ocidentais, em que as milícias sionistas se apoderaram de cerca de ¾ da Palestina, destruindo centenas de aldeias e cidades, expulsando 750.000 palestinianos das suas terras e matando, entre 1947 e 1948, 15.000 palestinianos em mais de 70 massacres. Este processo de colonização, conhecido por nakba (catástrofe), foi prosseguido por colonos armados que, apoiados pelo Estado de Israel, continuam a expulsar e assassinar palestinianos (6.407 entre 1-1-2008 e 30-9-2023), vistos hoje pelo Ministro da Defesa como ‘animais’ a abater.
Considerando a barbárie do regime nazi que dizimou, em nome da superioridade da ‘raça ariana’, 6 milhões de judeus, ciganos e opositores numa estratégia de expansão imperialista alemã mas sem esquecer as perdas de milhões de vidas na própria II Guerra Mundial, nomeadamente soldados dos países aliados, sobretudo da ex-URSS, a ONU acabou por validar na sua resolução n.º 181 a criação do Estado de Israel em 1948 mas à custa do território e do povo palestiniano. Esta violenta apropriação por parte do sionismo israelita viria a desencadear a contestação não só de palestinianos mas também de países árabes vizinhos em vários conflitos: a crise e guerra do Suez entre Egipto – que sob Nasser nacionalizou o canal do Suez – e Israel que, apoiado por Inglaterra, França e EUA, conquistou a Península egípcia do Sinai, para depois se retirar sob pressão da ex-URSS e sob auspícios da ONU; a Guerra dos 6 dias, de 5-10/7/1967, com o Egipto, a Síria, o Iraque e a Jordânia, em que Israel ganha esta guerra-relâmpago e anexa territórios do Egipto, da Síria e da Jordânia (Península do Sinai, Cisjordânia, Gaza, Jerusalém Oriental e Montes Golã), o que viria dar lugar a 6/10/1993 a uma terceira guerra conhecida por Yom Kippur, desencadeada por países árabes para reconquistar os territórios anexados por Israel, o que não foi conseguido; e, por fim, as sucessivas Intifadas ou lançamentos de pedras contra militares israelitas por parte de palestinianos nomeadamente jovens que, desesperados e destituídos de direitos sociais e políticos (educação, saúde, voto, mobilidade e culto), foram assassinados ou sobreviveram numa prisão a céu aberto ou campo de concentração.
Perante a Organização da Libertação da Palestina (OLP) liderada por Arafat, paradoxalmente foi Israel que incitou à criação do Hamas como organização concorrente da OLP, de forma a dividir a resistência palestiniana, organização que acabaria por recolher em eleições de 2006 o apoio maioritário dos palestinianos em Gaza. E, apesar de o Hamas ter negociado em junho de 2008 um cessar-fogo com Israel, este, no dia de eleição de Obama a 4/11/2008, rompeu o cessar-fogo e liquidou 1.400 e, depois em 2014, mais 2.200 palestinianos em Gaza (cf. Finkelstein, Opera Mundi, 7/11/2023).
O território da Palestina não só foi enormemente reduzido, como o povo palestiniano continua cercado por um muro de 700 km de comprimento e 8 metros de altura, construído pelo regime sionista de apartheid e limpeza étnica. Mais, Israel colocou diversos postos de controlo e vigilância em toda a Palestina, uma ação considerada ilegal por parte do Tribunal Internacional de Justiça, além de 180 resoluções da Assembleia Geral da ONU aprovadas por mais de 150 países, entre as quais a de implementação do acordo de Oslo conseguido em 1993 para o reconhecimento de dois Estados: Israel e Palestina.
Não é inocente que os telejornais continuem a falar do conflito Israel-Hamas e não Israel-Palestina, que os Estados Unidos (EUA) financiem Israel e exerçam hoje o seu direito de veto a favor de Israel no Conselho de Segurança da ONU e que, mais surpreendentemente, países da UE, forças de direita continuem cúmplices e inclusive, num primeiro momento, algumas de esquerda tenham convergido com os EUA e subscrito resoluções no Parlamento Europeu sem exigir um cessar-fogo nem aplicar sanções a Israel.
O Estado terrorista de Israel, além de ser surdo a apelos de cessar-fogo, dificultar ou até impedir a ajuda humanitária a um povo sem eletricidade e combustível, água, comida e medicamentos, destrói infraestruturas e casas, bombardeia escolas, hospitais e ambulâncias, invade o território e comete crimes de guerra contra vítimas inocentes, nomeadamente crianças, subindo já para mais de 20.000 mortos, configurando-se como o maior genocídio após o holocausto judeu, cujo povo tem dirigentes protofascistas, tal como o reconhecem organizações e intelectuais críticos do governo de Netanyahu.