Vive La Commune!

Na alvorada de 18 de Março (1871), Paris foi despertada por um grito revolucionário: VIVE LA COMMUNE!

Passam agora 148 anos que “os proletários da capital – dizia o manifesto de 18 de Março – no meio das fraquezas e das traições das classes governantes, compreenderam que chegara para eles a hora de salvar a situação assumindo a direção dos assuntos públicos”

As ruas e os edifícios públicos foram ocupados, mas os trabalhadores não se contentaram em tomar o aparelho de Estado tal como ele era e de o pôr a funcionar por sua própria conta. O poder centralizado do Estado, com os seus órgãos presentes por toda a parte, tinha de ser substituído pela organização democrática e descentralizada dos cidadãos.

A Comuna era composta por conselheiros municipais, eleitos por sufrágio universal nos diversos bairros da cidade. Eram responsáveis e revogáveis a todo o momento. A maioria dos seus membros eram, naturalmente, operários. A Comuna devia ser, não um organismo parlamentar, mas um corpo activo, ao mesmo tempo executivo e legislativo.

O governo revolucionário aprovou decretos com claras características socialistas. A religião foi declarada assunto privado e separada do Estado; foram confiscadas casas vazias para acolher quem não as tinha; o ensino público foi aberta a todos, assim como as manifestações culturais; os trabalhadores estrangeiros foram considerados irmãos e irmãs. A produção da indústria foi organizada com a participação democrática dos operários. Organizavam-se reuniões dia e noite, para discutir e decidir soluções em função do interesse público, do bem comum.

A Comuna foi a primeira forma de governo operário na história. Marx dedicou-lhe uma profunda análise e retirou lições fundamentais. A necessidade de um partido operário, com uma estratégia socialista, era imprescindível não para as manobras parlamentares, mas para preparar e dirigir a revolução.

Marx, não se ficou pelo entusiasmo do heroísmo dos comunards, “tomando o céu de assalto” segundo a sua expressão. Muito embora o movimento revolucionário tivesse sido duramente reprimido pela burguesia, Marx viu nele uma experiência histórica de enorme importância.

Em entrevista à revista “Jacobin”, Kristin Ross, autora de um recente livro sobre a Comuna – “Communal Luxury: The Political Imaginary of the Paris Commune”, procura estabelecer ligações entre o tempo da Comuna e os tempos de hoje. Refere que “a maneira como as pessoas, particularmente as mais jovens, vivem agora assemelha-se, na sua instabilidade económica, à situação dos trabalhadores e artesãos do século XIX que fizeram a Comuna”.

Kristin Ross considera a Comuna como a mais poderosa expressão de ocupação do espaço público. Como se fosse um recurso deixado pela Comuna, esta forma de intervenção política ressurgiu, principalmente depois de 2011, “com o retorno praticamente em toda parte de uma prática política baseada na ocupação do espaço como forma de luta, ocupando lugares e territórios, transformando cidades”.

A Comuna tornou-se a figura central de uma história e talvez de um futuro, “diferente do curso tomado pela modernização capitalista, por um lado, e pelo socialismo estatal utilitarista, por outro. Este é um projeto que muitas pessoas compartilham hoje, e o imaginário da Comuna é fundamental para esse projeto”, conclui a autora.

 

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