Vistos Gold Gold Plus

Soube através do jornal da TVI de hoje [1 junho] que existia um visto Gold Gold Plus para quem se declare descendente de judeus sefarditas que recusaram o batismo!

Os vistos Gold são um negócio de venda do passaporte português e a direitos de circulação na UE – dirigido na sua maioria ao mercado de milionários russos e chineses que pretendem expandir as suas redes na União.

O visto Gold é um negócio. Descobri hoje que havia, como nos cartões dos bancos, o cartão de platina, o Gold Gold Plus, neste caso atribuído a indivíduos que invoquem ser fiéis de uma religião – o judaísmo – e um drama da história com quinhentos anos – a expulsão de antepassados há cinco séculos, por não se submeterem à lei da nacionalidade da altura, que implicava a adesão à religião oficial do Estado (Reino).

Fiquei a saber que um individuo descendente de quem há 5 séculos saiu de Portugal, por não se conformar com as leis e os costumes do poder da altura do Reino de Portugal da casa de Avis, pode hoje, reivindicar a nacionalidade da República Portuguesa, sem que nada lhe seja exigido, nem que fale a língua, nem que conheça a história, nem que tenha contribuído para o que somos hoje, e sofrido o que os cidadãos portugueses sofreram para serem portugueses desde que os seus avós daqui saíram para se estabelecerem em várias partes do mundo. E não foi pouco: a aventura marítima da expansão, a sujeição a um Estado estrangeiro, Espanha, as emigrações para o Brasil e África, para as Américas, a ditadura a guerra colonial…

Nada compartilharam da nossa história, da História dos que aqui permaneceram como portugueses. Agora têm direito a tudo em nome de um alegado sentimento de culpa – alegado porque por detrás do passaporte Gold Gold está a poderosa comunidade judaica que quer ganhar aqui mais um paraquedas político, prevendo, como parece óbvio, o desastre que resultará da política de genocídio praticada no Medio Oriente, que os deixará em Israel, a sua assumida Terra Prometida, à mercê da vingança dos vizinhos que hoje massacram.

Miguel Sousa Tavares referiu a questão central: trata-se de um negócio de passaportes e de saldo de identidade nacional. Os descendentes dos judeus sefarditas portugueses pretendem um passaporte de acesso à União Europeia, um estatuto bem mais favorável ao dos vistos Gold e o Estado Português concede-lhes a chave da porta mais fácil de entrada.

Como se satisfaz o “justo direito à reparação”, que a presidente da comunidade judaica invocou? Se a questão é de sentimentos, de bons sentimentos a solução é fácil: com a emissão de um passaporte sentimental. Um Passaporte da República Portuguesa que sirva para esses descendentes de antigos compatriotas aqui possam entrar sem restrições alfandegárias, e aqui possam pagar os seus impostos. Os outros países da União nada têm a ver com as nossas injustiças centenárias, as dos nossos antepassados, e portanto não lhes devemos impor os frutos delas.

Todos os cidadãos que professam a religião judaica têm uma nacionalidade que nalguns casos dura há 500 anos. Devem conservá-la. Se amam o país dos seus antepassados súbditos dos reis D. Manuel e Dom João III, instalem.se aqui, como tantos estrangeiros fazem, sejam judeus, protestantes, ortodoxos, muçulmanos, budistas, ateus, evangélicos, sejam circuncisados, ou não, bebam vinho ou leite, febras de porco ou cordeiros degolados. Rejeito a ideia de portugueses de primeiríssima classe, com visto Platina e rejeito a culpa por atos de antepassados com 500 anos. Não há julgamentos da História.

Daqui a uns anos, quando os palestinianos exigirem reparações aos judeus ocupantes, também vai haver passaportes para eles?

Sei da delicadeza da abordagem do assunto… mas o assunto da nacionalidade deve ser enfrentado sem complexos, nem preconceitos, de igual para igual.

Não consigo estabelecer outra ligação entre os que, por motivos de religião de Estado e de poder, saíram em 1500 e os que, por cautelas, querem um passaporte português em 2000, a não ser a consciência de que se aproximam tempos de acerto de contas no Medio Oriente! O amor à terra dos avozinhos não me parece que seja…

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