Foi anunciado que as diplomacias portuguesa e dos EUA preparam uma visita de Donald Trump a Portugal para finais do mês de Agosto. A data é escolhida propositadamente para, em período habitual de férias, tentar evitar manifestações anti-Trump e escapar a uma ida à Assembleia da República onde se previa ser mal recebido por algumas bancadas, com repercussão mediática internacional.
O presidente dos EUA não é bem-vindo a Portugal e mesmo que Marcelo e Trump se juntem em agosto, o arauto mundial do racismo e da extrema direita deve contar com uma ampla e forte mobilização popular, das forças políticas anticonservadoras e dos movimentos sociais que lutam diariamente contra o racismo, a xenofobia, as discriminações contra as mulheres e a homofobia. Que ninguém se engane sobre a verdadeira agenda conservadora de Trump para a Europa.
No dia em que Trump foi eleito, líderes de partidos de extrema-direita de França, Reino Unido, Rússia, Holanda, Itália, Alemanha e Áustria e os neonazis da Grécia manifestaram o seu profundo agrado com a vitória do magnata conservador de Nova Iorque. Marine Le Pen, felicitou Trump, mesmo antes de a sua vitória ser oficialmente declarada.
Um dos pontos da agenda para a previsível viagem de Trump a Portugal serão os investimentos norte-americanos, nomeadamente o interesse no novo terminal de contentores de Sines que será objeto de concurso internacional em breve, segundo anunciou a ministra do Mar. Os interesses imperialistas e da globalização capitalista nunca são dispensados.
Mas que ninguém se engane sobre a realidade da agenda política de Trump na visita à Europa, que vai para além dos negócios e da competição com a China. A extrema direita na Europa conta com a presença de Trump para projetar e amplificar as mensagens conservadoras, racistas, xenófobas, anti refugiados e imigrantes. Trump virá caucionar a ascenção e a presença da extrema direita em vários governos europeus e o alargamento dessa rede a outros.
Não inocentemente, no dia seguinte à estadia em Portugal segue-se a Espanha, onde a extrema direita teve uma progressão eleitoral assinalável nas recentes legislativas realizadas no Estado espanhol.
Também a viragem à direita no Parlamento Europeu contará com os bons ofícios do presidente dos EUA, com Salvini e o grupo de Visegrado (“quarteto” formado por Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia) a ganharem peso e a pressionarem a composição dos lugares de topo na UE. Trump não se esquecerá desse ponto na sua agenda durante a visita que se projeta para Agosto.
A entrevista do embaixador dos EUA em Berlim, Richard Grenell, ao site conservador Breitbart, é esclarecedora sobre esta matéria e torna evidente a ponte entre a extrema direita europeia e Donald Trump. Refere o embaixador dos EUA que “muitos conservadores ao longo de toda a Europa têm me contactado para dizer que eles sentem que há um ressurgimento conservador em curso”, disse Grenell na entrevista, acrescentando que há “muito trabalho a fazer” a esse respeito, o que o deixa “muito excitado”.
Caso a visita venha a realizar-se, Trump só poderá contar em Portugal com uma gigantesca mobilização anticonservadora que enfrente a agenda da extrema direita e afirme o repúdio pelas suas políticas.