Solidariedade com Rojava – a ofensiva da Turquia contra os curdos tem de ser repudiada pelas forças democráticas

O chamado Curdistão Sírio é uma região autónoma não reconhecida,  situada a nordeste da Síria, que inclui populações curdas, árabes, assírias, turcomenas, entre outras. Em Março de 2016 foi autoproclamada a Federação do Norte da Síria – Rojava  que defende o confederalismo democrático na Síria, a democracia direta, a igualdade de género e a sustentabilidade ambiental. Mais tarde, em Dezembro, a designação oficial da região foi alterada para Federação Democrática do Norte da Síria (FDNS).  O Curdistão Sírio (Rojava) é parte de uma região histórico-cultural do Médio Oriente, o Grande Curdistão, maioritariamente habitada por populações curdas que se estende por áreas da Turquia, Irão, Síria e Iraque.

Numa comunicação à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro passado, o presidente turco Erdogan manifestou a intenção de “estabelecer um corredor de paz na Síria, com a profundidade de 30 quilómetros e a extensão de 480 quilómetros, para que a comunidade internacional possa estabelecer dois milhões de sírios ali.” Semanas depois,  Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam retirar as suas tropas do Norte da Síria que tinham sido para lá deslocadas com o objetivo de conter o terror dos  jihadistas do ISIS (Estado Islâmico) e a progressão do Califado. A decisão de Trump abriu caminho para o avanço do exército turco sobre aquela região sob controlo curdo.

Por detrás da declaração aparentemente humanitária de Erdogan, está o objetivo de há muito da Turquia ocupar o norte da Síria. De facto, o “corredor da paz” é o local conveniente para colocar refugiados sírios, que têm sido vistos na Turquia como um problema político pelas forças conservadoras que incrementam o racismo e a xenofobia contra eles. Erdogan quer livrar-se dos refugiados e dos custos que implicam, apesar de ter negociado com a UE uma renda milionária para os manter e impedir que fujam para a Europa.

Por outro lado, o avanço militar turco sobre o Curdistão Sírio é a oportunidade para acabar violentamente com o controle curdo no Norte da Síria (também conhecido como Rojava) e destruir um regime político democrático que defende a igualdade de direitos entre todas as pessoas, independentemente da etnia, religião ou género. O governo conservador da Turquia considera as Forças Democráticas Sírias (SDF) de Rojava como uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que Ancara combate desde 1984 e vê como uma organização terrorista.

A razão da retirada dos EUA prende-se com a gestão das contradições inter imperialista no Médio Oriente. A Turquia é a principal potência regional e é membro da NATO. A presença dos EUA no Norte da Síria para conter o ISIS acabou por favorecer o sucesso curdo em Rojava, o que tendia a enfraquecer as relações dos EUA com uma Turquia de Erdogan cada vez mais hostil aos curdos sírios. Erdogan chegou a ensaiar uma aproximação à Rússia e a receber armas de Putin para desafiar e pressionar os EUA. Em suma, a presença dos Estados Unidos no Norte da Síria criou fortes tensões na politica externa norte americana. Entre Ancara e Rojava, Donald Trump escolheu, naturalmente, a Turquia, potência regional e membro estratégico da NATO.

A brutalidade do avanço militar turco sobre o Norte da Síria não deixa margem para dúvidas sobre o objetivo de Erdogan acabar com o progresso social conseguido na região, incluindo os avanços na libertação das mulheres e no autogoverno popular. O plano da Turquia de instalar milhões de refugiados sírios árabes na região só pode ser realizado à custa das populações curdas. O presidente turco está determinado não só em acabar com o governo curdo, mas também em anular qualquer possibilidade de os curdos desempenharem  um papel decisivo nos assuntos do norte da Síria.

A luta em Rojava exige a solidariedade internacional das forças democráticas e, em especial, da esquerda internacionalista e socialista. Em reunião recente dos ministros dos negócios estrangeiros da UE em Bruxelas, os governos recusaram-se a decretar o embargo europeu da venda de armas à Turquia.  A União Europeia tem de ser confrontada com o genocídio que está a ser perpetrado contra os curdos e os parlamentos nacionais devem exigir dos governos medidas concretas contra a ofensiva militar turca.

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