Sobre a importância das “paróquias” e do “outro”

Quem já foi a Santiago ou a Fátima a pé, por fé, devoção ou por introspeção, conseguirá compreender a essência da energia do seu interior e, até, certamente, do seu regresso, trará carimbado no coração o registo da preservação e respeito pelo interior do outro, do próximo, descortinando o quanto representa caminhar, nos trilhos da vida, de baixo para cima. Fortalece o alcance da chegada. Da chegada digna.

O significado de dimensão territorial não deve ser aplicado pelo tamanho da freguesia, ou pelos algoritmos dos eleitores, mas sim, pela riqueza da moldura do respeito pelas pessoas que a fizeram nascer e nela habitam, resultando assim numa rota de relação íntegra com o seu meio. Daí a inevitabilidade da Regionalização.

Quando, por egocentrismo, não reconhecemos a capacidade do interior idóneo do outro, não só nos estamos a por em causa a nós próprios, como e sobretudo, colocamos todos os outros em risco, por mero capricho, instantâneo e com o tempo contado. Daí a necessidade do outro. Porque nós também somos o “outro” para os outros.

Quando por táticas rasteiras de bastidores políticos para alcançar o Poder, consideramos que os algarismos, ou os interesses pessoais, valem mais do que qualquer passo dado, em caminhos espinhosos, por aqueles que penitenciaram por outros e, até, contribuíram honradamente para alcançar um resultado justo, acabaremos cegos e sós num caminho à deriva encriptado pela iminência do abismo onde já “outros”, outrora obstinados, jazem.

Saltando da crença para a política, ainda que ambas caminhem com intervenção na sociedade e interferência nas pessoas, mas incomparáveis nas suas necessidades e responsabilidades, míseros daqueles que desconsideram os outros que antes com eles cooperaram para agarrarem vitórias e, agora, não mais precisarem e descurarem-nos a eles e às suas vivências.

Devemos até perdoar, mas não lhes daremos a outra face!

Os resultados do BE nas Europeias foram realmente excelentes. A Marisa teve, evidentemente, a maior influência na obtenção do sucesso, juntamente com toda a sua equipa. Honra lhe seja feita. É de elementar justiça reconhecer-lhe o seu mérito e, principalmente, a sua humildade, quiçá, por ter também ela caminhado na vida de baixo para cima! Isto vinca a personalidade das pessoas. Das pessoas boas.

É certo que a conjuntura política foi diferente. O quadro dos candidatos muito mal descodificado pelos partidos adversários. Pouco se falou sobre o futuro da Europa. Mas, mesmo com todo o seu talento, que faria a Marisa, sozinha, esquecendo todos aqueles que se envolveram nas suas “paróquias” para que alcançasse Bruxelas?

No meu concelho, por exemplo, onde o BE nacional se fortalece desde as autárquicas, além de não termos representantes locais do BE nas mesas de voto, não tivemos sequer o prazer de a ver “ao vivo” durante a campanha – valeu-nos a meia dúzia de cartazes – e mesmo assim triplicou os votos comparativamente a 2015. Sinto-me triplamente orgulhoso. Porque eu, um dos tais “outros”, trabalhei com muitos outros de cá, para lá. À minha custa! À nossa custa!

Para os que me tomarem como arrogante, temos pena! Mas, começa a enojar-me a falsa humildade e palpita-me a partilha da responsabilidade, pois, juntamente com as pessoas que estão ligadas ao BE de Alijó, andámos no terreno desde as autárquicas, sem parar, a bater todos os caminhos que vão dar às “paróquias”. Nem isso fez de mim melhor que os outros! Pelo contrário, ensinou-me a vergar, honradamente, perante os outros sempre que for necessário. Mas a curvar-me com a simplicidade de quem reconhece o outro, sem me sentir uma marioneta presa às cordas dos divinizados fantasmas do passado.

E nós, além de não cuspirmos no prato que comemos, respeitamos as pessoas que nos abrem as portas e não nos atiramos à fé da sorte de 4 em 4, ou de 5 em 5 anos, esperando por milagres.

Sem querer questionar o método da escolha, muito menos a elevação erudita dos novos elementos que encorparão as listas das Legislativas e até por ser essencial renovar, mas depois de em Braga perdermos Pedro Soares e em Santarém termos assistido à triste novela que fizeram ao Carlos Matias, recorro eu agora aos milagres, para estar redondamente enganado, pois estes distritos representados por dois grandes políticos, que além de dois grandes homens, são e sempre foram dois servidores da causa pública como já há poucos no espectro político. Mas também sei, dada a conjuntura política, dá muito jeito correr com este tipo de pessoas! Jeito àqueles que vivem e sobrevivem do manto protetor do Partido!

E se perdem os “outros”, lá está, perdemos nós também! Perde o BE! Perde Portugal! E não é esta a missão do BE, ou pelo menos, não será este o espírito dum Partido que começa a afirmar-se cada vez mais como a terceira força política do País.

Pedro Soares e Carlos Matias, entre tantos e tantos outros camaradas desta craveira, desde Bragança, à Madeira, passando pelos Açores, calcorrearam os nossos caminhos espinhosos, a lutarem por cada um de nós, num todo, descalços de preconceitos, sem receio dos pregos espalhados caprichosamente em algumas serras, nem do suor dos abraços dos cidadãos anónimos. Honra lhes seja feita!

Anunciam-se bons tempos para o BE também nas Legislativas, mas é preciso nunca esquecer que todas as pessoas são importantes e, se no passado recente eram boas, certamente não o deixaram de ser pelo simples facto de em algum momento discordarem ou manifestarem opinião diferente. O direito à pluralidade de opinião é umas das nossas grandes causas do 25 de Abril e, igualmente, do nosso Partido. Também por isso lutámos nas ruas.

A vida já ensinou a política, ou pelo menos já deveria ter ensinado alguns políticos por analogia a outros que se deram mal, que às vezes temos de dar um passo atrás para mais tarde darmos dois para a frente.

Por todos os “outros” e por cada um de nós, assim seja!

VAMOS À LUTA!

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