Silêncio sobre o assassinato de Luís Giovani foi “absolutamente revoltante”

Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, considerou, em declarações ao jornal on line “Notícias ao Minuto”, “absolutamente revoltante” a “indiferença total” e o “silêncio” no espaço público sobre o caso do homicídio de Luís Giovani dos Santos Rodrigues, o estudante cabo-verdiano que morreu no último dia do ano passado após ter sido violentamente agredido por um grupo de 15 indivíduos  à saída de uma discoteca, em Bragança.

“Mesmo que não seja uma razão racial que esteja na origem do assassinato, independentemente das circunstâncias da sua morte, o silêncio sobre a morte de Luís é revelador do racismo que existe em Portugal. Não tenho a menor dúvida”, sublinhou Mamadou Ba.

Para o ativista, o facto de “nenhum dirigente do país” ter vindo a público falar sobre o crime é “inacreditável”. “Imaginemos que tinha sido um jovem branco a ser espancado por 15 jovens negros e que essas agressões resultassem numa morte. Teríamos o país inteiro mobilizado, indignado, a exigir Justiça e o apuramento das responsabilidades. Todas as entidades públicas e políticas estariam neste momento já em campo a dizer o que pensavam sobre a situação e a exigir responsabilidades. Não foi o caso”.

Apontando que “o caso ficou 10 dias a marinar e só se soube porque se tornou viral nas redes sociais”, Mamadou Ba reforçou que “se tivesse sido ao contrário” já teriam surgido vozes “da extrema-direita a exigir mão forte contra os criminosos e que se fizesse justiça”, tal como, “responsáveis de tutela a dizer que se tem de garantir a ordem pública”. “É absolutamente revoltante”, acrescentou.

Sem esquecer “as conquistas do último ano” no que diz respeito ao combate contra o racismo em Portugal, Mamadou Ba afirmou que a “indiferença total que se nota neste caso” demonstra falta de “clarividência institucional” e uma incapacidade da sociedade portuguesa em confrontar a “vivacidade do racismo” presente no país.

“As pessoas não querem ouvir falar de racismo, não querem admitir que há racismo no país e parece-me também que há uma espécie de cedência das forças políticas relativamente a esta questão. Somos um país que se quer enganar a si próprio, pensando que não falando da situação ela deixa de existir”, sustentou.

Estão convocadas várias marchas de silêncio em homenagem ao estudante, que irão decorrer no dia 11 de janeiro, por volta das 15h, no Terreiro do Paço, em Lisboa, na Avenida dos Aliados, no Porto, na Praça da República, em Coimbra, e na Igreja da Sé, em Bragança.

Entroncamento condena ataque

Entretanto, por iniciativa do vereador Henrique Leal (BE), a Câmara Municipal do Entroncamento, cidade geminada com Mosteiros, terra natal de Luís Rodrigues, aprovou por unanimidade um voto de pesar, esperando “que se faça justiça e sejam punidos os responsáveis por ato tão bárbaro”, cortando a vida de um jovem “de forma brutal e dramática”.

A geminação do Entroncamento com Mosteiros vem reforçando laços de fraternidade. “Daí compartilharmos de forma especialmente profunda a dor que atinge a família do Luís Rodrigues, os seus amigos e toda a comunidade de Mosteiros”, afirma a Câmara do Entroncamento.

Finalmente, a autarquia “presta homenagem à memória do jovem falecido e apresenta as suas sentidas condolências à família enlutada, aos seus amigos e à comunidade mosteirense.”

1 comentário em “Silêncio sobre o assassinato de Luís Giovani foi “absolutamente revoltante””

  1. Esperemos que essa indignação e revolta se mantenha quando for público que está morte resultou de uma cilada provocada
    por um grupo de etnia cigana.

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