Em entrevista ao jornal Público, Paul Watson, 71 anos, fundador da Sea Shepherd Conservation Society, alerta para as ameaças sobre os oceanos, ecossistemas vitais para a sobrevivência da Humanidade.

O ecologista lembra que “70% do oxigénio que respiramos é produzido por fitoplâncton no mar e o fitoplâncton diminuiu 40% desde 1950. É muito para algo que é absolutamente necessário para a vida. Se o fitoplâncton desaparecer do mar hoje, morremos todos amanhã. As árvores e as plantas não conseguem fornecer oxigénio suficiente”.
Por outro lado, “Se queremos combater as alterações climáticas, temos de proteger o mar. É ele que regula o clima. Como o fazemos? Deixando-o em paz. Dêem-lhe tempo para reparar dos danos que lhe causamos. E pode ser feito, ele é muito resiliente, vai recuperar.”
Que fazer? Paul Watson responde: ” precisamos, pelo menos, de uma moratória de 50 anos em todas as operações industriais pesadas de pesca. Se não tomarmos acções como esta, não acredito que os ecossistemas marinhos vão sobreviver ao século XXI.”
Mas isso não é tudo. “Temos de mudar os nossos hábitos alimentares, não há peixe suficiente no oceano para continuar a sustentar isto. É claro que a indústria vai sempre dizer que há pessoas que dependem do peixe para sobreviver. Claro que há, e não é neles que nos estamos a focar. As pessoas que saem nos seus pequenos barcos em África, na Índia ou na América latina, com as suas pequenas redes, não são o problema. O problema são as operações industriais corporativas de pesca. Arrastões de um milhão de euros, gigantescas embarcações com redes de arrasto que danificam o fundo do oceano… Isto é que está a destruir o oceano.”
A situação é hoje muito preocupante. “Não há um local para os peixes se esconderem. Temos santuários e reservas marinhas, mas é para aí que os pescadores furtivos vão. O que precisamos é de reforçar a acção e fiscalização em todas estas águas. Temos pela frente muitos desafios: sobrepesca, pesca ilegal, alterações climáticas, poluição. São tudo problemas com que temos de lidar. A boa notícia é que as pessoas estão a ficar mais conscientes disto e estão a acontecer mais e mais acções.”
Foto principal: Julieta Pracana em VisualHunt
Um comentário sobre Paul Watson (que é um personagem e tanto!), fica para outra oportunidade.
Quanto a “temos de proteger o mar”, parece haver uma estratégia de Portugal: quanto menos lhe mexermos, melhor. E acham que isto é bom porque representa zero investimento, zero chatice e ninguém nos pode acusar de danos ambientais. As descargas poluidoras são feitas à socapa, os navios porta-contentores ficam a largar porcaria durante dias mas têm inegável interesse estratégico e os paquetes de luxo (que poluem por cada dia de estadia como uns bons milhares de carros) são parte da vertente do grande desígnio nacional: o Turismo!
Bem, talvez tudo isto aconteça quando a APA está fora do horário de expediente…
Em resumo, não mexer é a palavra de ordem, até porque fazer alguma coisa dá imenso trabalho e obriga a pensar, o que relegaria injustamente para segundo plano as fecundas discussões sobre futebol.
Acho que os governos estão inclinados a construir um aeroporto no Montijo, numa perspectiva ecológica: a parte da pista que fica submersa na preiamar é em betão e a poluição marinha por pilares e placa de betão armado é pouco relevante como todos sabemos.
Eu resumo: temos a 5ª maior ZEE da Europa e 20ª da Terra, mas como há uns estudos em curso por uns ‘carolas’ que nem têm grandes meios mas lá vão fazendo o que podem com o que há, digamos que estamos bem e dispensamos projectos megalómanos.