Torna-se cada vez mais evidente a intervenção dos Estados Unidos na situação interna da Venezuela, com o objetivo declarado de derrubar o governo do país, nem que para isso seja necessário recorrer a uma intervenção armada, segundo declarações do próprio presidente dos EUA.
A União Europeia juntou-se agora a Trump e Bolsonaro na estratégia de chantagem sobre a Venezuela, exigindo a convocação de eleições no prazo de 8 dias, sob pena de reconhecer Juan Guaidó, o autoproclamado presidente interino, como o representante do país.
As responsabilidades do regime de Maduro na grave crise económica e social do país, no empobrecimento e crescente autoritarismo, colocam-no sob forte contestação popular. Segundo a Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição, a mudança do governo tem de ser por ação dos venezuelanos, nunca por um golpe de Estado inconstitucional promovido e com o apoio dos EUA e dos seus aliados.
Os recursos petrolíferos venezuelanos estão no centro dos interesses imperialistas. Ao presidente dos EUA não lhe preocupa a pobreza ou os direitos humanos, apenas as riquezas e a posição geoestratégica da Venezuela. Um verdadeiro ultimato lançado pela UE contra a Venezuela, colocou os 28 Estados membros a reboque dos interesses norte americanos, em vez da defesa do direito internacional, do diálogo e da mediação pacífica.

Em período de franca ação de ingerência externa, não é sustentável uma mera posição equidistante entre governo e autoproclamado presidente interino, nem a exigência de realização de eleições em plena crise, à beira de um conflito que pode tomar proporções incontroláveis. As condições de vida e as garantias de cidadania das pessoas na Venezuela só irão piorar com uma intervenção externa, adquira ela os contornos que adquirir.
No quadro atual e em primeiro plano, torna-se prioritária a exigência do respeito pela integridade e soberania do território do país, bem como o restabelecimento das garantias democráticas e constitucionais, repudiando qualquer intervenção ou ingerência externa. Sem isso não haverá possibilidade de projeto nacional e democrático futuro, nem direito à autodeterminação.
Portugal e a União Europeia têm, no entanto, o particular dever de apoiar os largos milhares de portugueses e lusodescendentes que vivem na Venezuela ou que, devido à crise extrema, já vieram para Portugal.
Em conferência de imprensa em Caracas, a Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição, que integra o grupo de esquerda Marea Socialista, rejeitou o “Estado paralelo impulsionado pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pelo Grupo de Lima”, não conferindo ao regime de Maduro, tanto ao presidente, como ao Governo e à Assembleia Constituinte, qualquer apoio.
Juan Guaidó utilizou argumentos legais – os artigos 233, 333 e 350 da Cosntituição venezuelana – para autoproclamar-se presidente interino, com o objetivo de, em breve, marcar eleições livre. A mudança foi desenhada pela oposição venezuelana, dentro do marco da Constituição, com o apoio massivo da população venezuelana. Não se trata de uma ingerência, mas sim de uma estratégia que busca uma solução rápida para o flagelo que lá se vive e que vai ao encontro das necessidades e da vontade da maioria da população. Para isso, foi necessário unir a oposição e o apoio de muitos países, entre os quais estão o Brasil e os EUA, cujos líderes são conhecidos por terem discursos autoritários, é certo. Mas, será que do lado do regime há países mais credíveis/democráticos? Não me parece… O grupo é constituído por: Rússia, China, Cuba, México, Bolivia, Turquia, Síria e conta também com o apoio de alguns uns grupos extremistas…
Será que só Trump e Bolsonaro é quem merece o rótulo de extremistas, anti-democráticos, capitalistas? Por que é que a relação que o regime mantém com Cuba, Rússia e China não é considerado ingerência?
Habituei-me a ouvir os representantes do BE a defenderem, com unhas e dentes, os direitos dos mais desfavorecidos. Mas, quando o assunto é Venezuela, as palavras são outras… Por isso, parece-me no mínimo incompreensível que os discursos de alguns elementos do BE se continuem a focar em “Trump” e na “ingerência dos EUA”. Haja coerência! Defendam a democracia…