Há quem se interrogue sobre o que afinal deveria ter feito o Bloco de Esquerda, a meio da legislatura anterior, quando já havia sido cumprida a maior parte do acordo com o PS que suportava o anterior Governo.
A pergunta é pertinente, mesmo quando formulada retoricamente, no pressuposto implícito de que nada haveria a fazer… a não ser o que foi feito: seguir no bojo da “geringonça”, procurando mais alguns ganhos pontuais. Mas sem agitar muito as águas, “fazendo pontes”, “responsavelmente”, não fosse o Governo cair.
O Manifesto CONVERGÊNCIA, recentemente aprovado em Encontro Nacional, dá outra resposta. “A segunda parte da legislatura impunha que o Bloco de Esquerda tivesse exigido um novo patamar de negociação com o PS, na continuidade do acordo de incidência parlamentar existente, cumprido que estava no seu essencial. Tratava-se de atualizar e concretizar “o que era genérico no mitigado acordo inicial, definisse novas metas ao governo e desse suporte aos movimentos em torno desses objetivos.”
Esta posição não é nova, nem resulta da mudança de opinião de “alguns camaradas”.
Em novembro de 2016, Marisa Matias defendia ser preciso “repensar” o acordo das esquerdas e expressou-o publicamente. Na Mesa Nacional seguinte, alguns dirigentes bloquistas defenderam explicitamente a necessidade de confrontar o PS e o seu Governo com um novo caderno de encargos. Não se propunha uma rutura com o anterior acordo, nem a queda do governo. Propunha-se, sim, a abertura de uma nova página, pois, entretanto, a conjuntura havia mudado. Como então referiu Marisa Matias, era necessária “uma redefinição de outras prioridades, na medida em que as primeiras se encontram já praticamente esgotadas.” Na altura, a maioria da Mesa Nacional do BE opôs-se a essa visão e a essas propostas.
Posteriormente, na mais recente reunião da Mesa Nacional, a que procedeu ao balanço das eleições legislativas, houve quem tivesse interrogado, caso tivesse sido seguida a proposta dos “camaradas que defenderam um segundo acordo com o PS a meio da legislatura anterior, como teriam sido os resultados eleitorais?”
Portanto, não é verdade que nunca tenha sido colocada no Bloco a necessidade de confrontar o PS com um novo “caderno de encargos”, a meio da legislatura anterior. A verdade é que opção da maioria da direção do Bloco de Esquerda foi outra. Foi a de adotar o “geringoncismo”, que havia permitido uma boa solução conjuntural, como linha estratégica que levaria o partido para o governo. Chegaram até a ser indicados os camaradas “prontos” para serem ministros.
Para uns, tal estratégia terá permitido alcançar um bom resultado eleitoral. Para outros, como é mencionado no Manifesto CONVERGÊNCIA, infelizmente o Bloco não alcançou o objetivo traçado na XI Convenção Nacional de “ser força de governo, com uma nova relação de forças”.
Para se fortalecer, o Bloco e os seus dirigentes precisam sempre de fazer balanços sérios, o que exige memória e respeito pela verdade.
É sempre bom, que os aderentes de base, saibam o que se está a passar, com o futuro do Bloco!