Morreu José Mário Branco

Para José Mário Branco a cantiga era uma arma e foi assim que viveu como autor, cantor e ativista social. Uma das maiores referências da música portuguesa, José Mário Branco morreu esta terça-feira, aos 77 anos.

Natural do Porto, estudou História nas universidades de Coimbra e do Porto onde começou o seu envolvimento na luta contra o fascismo e a guerra colonial. Militante do Partido Comunista Português, foi perseguido pela PIDE, recusou participar como militar na guerra colonial e vai para o exílio, em França, onde desenvolve uma notável atividade cultural e política junto dos emigrantes e refugiados.

Em  1971 é gravado um dos seus mais emblemáticos albuns “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, com letras de autores como Natália Correia, Alexandre O’Neill, Luís de Camões e Sérgio Godinho. Regressa a Portugal com o 25 de Abril de 1974 e funda o GAC – Grupo de Acção Cultural que marcou a chamada “música de intervenção” e edita álbuns como o “Pois Canté!”, baseados na música e em instrumentação tradicional portuguesa.

José Mário Branco conquista um lugar de referência como autor e cantor na música popular portuguesa. Em pleno período de ascensão da direita, com governos de maiorias absolutas da AD (PSD/CDS/PPM), lança em 1982 o álbum “Ser solidário”, onde se inclui a faixa “FMI”, uma das suas mais contundentes intervenções musicais.

Além de músico e autor, José Mário Branco foi responsável pela produção e arranjos musicais de uma série de discos de outros artistas portugueses, de Zeca Afonso a Sérgio Godinho e a Fausto Bordalo Dias ou Camané.  O disco de Zeca Afonso “Venham mais cinco”,  gravado em Paris com José Mário Branco em 1973, permaneceu como um dos grandes símbolos da luta contra a ditadura e a guerra colonial.

José Mário Branco esteve na fundação da UDP, em 1974, e participou no arranque do Bloco de Esquerda há cerca de 20 anos.

O documentário “Mudar de Vida” (2014), de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo, rodado ao longo de dez anos é biográfico de José Mário Branco e é assim, nas suas próprias palavras, que se identifica: “Sou o Zé Mário Branco, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto, continua, desde há 40 anos a denunciar e a acreditar que é possível realizar a Mudança, aquela grande mudança que faz transformar o Mundo e a Vida numa coisa melhor.”

 

[O arquivo digital de José Mário Branco está disponível aqui]

1 comentário em “Morreu José Mário Branco”

Deixe um comentário