Artista assumidamente contestatário e interventivo politicamente, agitador do regime de Salazar, Júlio Pomar participou e liderou momentos marcantes na luta antifascista dentro do campo artístico. A 1ª Exposição da Primavera no Ateneu Comercial do Porto e o mural do Cinema Batalha, em 1946, mandado destruir pela polícia política poucos meses depois da abertura da sala ao público, são, apenas dois exemplos da sua marca na oposição ao regime, ainda nos seus tempos de juventude. Desta intervenção tão directa na comunidade é de lembrar também a participação de Pomar na experiência artística colectiva nos arrozais ribatejanos, em 1953, com Alves Redol e com outros artistas neo-realistas, que ficou conhecida pelo “Ciclo do Arroz”, e a criação da cooperativa de produção e divulgação de obras gráficas, em que Pomar é o principal animador até 1963.
No percurso de Júlio Pomar, cruzado com tantos outros intelectuais, escritores e artistas, ressalta o cunho de intervenção social e política, mas a sua obra não se deixa espartilhar em cânones, grita pelo movimento e pelo contraditório, nas técnicas e nos temas. Os trabalhos de Júlio Pomar vão, ao longo do tempo, assumindo uma vida e um humor sempre novo e livre, em diálogos de movimento, enveredando em novas experiências estéticas e em diálogos diversos entre formas, cores e vazios, num misto entre estética e ética.
O artista que “trabalhava para respirar” deixa-nos agora o legado da arte sem constrangimentos. Júlio Pomar renova-nos em cada olhar e inspira a mudança.
Júlio Pomar, 92 anos de uma história de arte, intervenção e liberdade.