O movimento internacional Via Campesina acaba de emitir uma extensa análise da situação dos agricultores de todo o mundo, no contexto da pandemia de COVID-19.
A Via Campesina compreende 182 organizações locais e nacionais em 81 países da África, Ásia, Europa e Américas, representando cerca de 200 milhões de agricultores. Reúne camponeses, pequenos e médios agricultores, sem-terra, mulheres e jovens rurais, indígenas, migrantes e trabalhadores agrícolas de todo o mundo. Tem por isso um conhecimento profundo dos problemas e aspirações dos camponeses.
Segundo a Via Campesina a “agricultura camponesa na Europa foi duramente atingida pela pandemia COVID-19. Por exemplo, os preços nos setores de pecuária e laticínios caíram devido ao colapso do mercado e aumentaram os excedentes com a queda da procura.”
A Coordenação Europeia Via Campesina (ECVC) apela urgentemente à tomada de medidas para resolver a situação e regular e estabilizar o mercado e os preços ao produtor contra a volatilidade do mercado. “O apoio da Comissão Europeia ao sector é insuficiente. A Comissão está mais preocupada com a produção e não com os produtores, numa altura em que mais de 1.000 agricultores por dia abandonam a profissão, na Europa.”
O Movimento Via Campesina analisa também a próxima assinatura do Acordo de Comércio Livre UE-Mercosul, que a Comissão Europeia está a preparar, considerando que “Se assinado, o acordo causará destruição ambiental, agravando impunemente a crise climática e as violações dos direitos humanos por meio de uma política agrícola voltada para a exportação.”
No que se refere à proteção dos trabalhadores agrícolas contra a pandemia, segundo a Via Campesina, “a Comissão Europeia não conseguiu garantir que os Estados-Membros aplicassem as suas orientações e agissem concretamente no terreno para prevenir e combater a exploração. Os trabalhadores migrantes e sazonais ainda enfrentam exploração e exposição ao COVID-19 na Itália e em outros países da UE.”
“Globalmente, os camponeses, ativistas e seus aliados estão engajados em atos de solidariedade para resistir ao Estado e às ações repressivas dos grandes empresários”, assegura o Movimento. “Eles também deram as mãos para apoiar uns aos outros para fortalecer a soberania alimentar e fornecer materiais de proteção contra COVID-19. Eles também estão mantendo o distanciamento social enquanto trabalham e produzem alimentos. Isso é o que alguns líderes camponeses chamam de “isolamento produtivo”.”
A pandemia mostrou a importância dos sistemas alimentares locais na alimentação das pessoas e a necessidade urgente de promover esses sistemas onde eles existem e reconstruir onde foram destruídos por muitos anos de negligência sob as políticas neoliberais. São os sistemas de produção de alimentos dos camponeses que estão alimentando as pessoas e evitando a fome generalizada durante esta pandemia.
É a hora de transformar. “Os direitos das pessoas, a dignidade e a solidariedade, e não os lucros, devem ser a base da nova sociedade. A soberania alimentar é o caminho certo e justo.”