Educação e mudança social

No documento aprovado pelo Via Esquerda em Fevereiro, existiam algumas propostas e objectivos que me parecem necessitar de um fortíssimo investimento em Educação.

As discussões acerca da educação têm, de uma forma geral, circunscrito a sua dimensão à Escola, ao tempo da infância e juventude e, consequentemente, à educação formal.

Para que se alcancem os desideratos enunciados no documento, como a mudança da sociedade ou uma maior intervenção da cidadania temos de olhar para a educação ao longo da vida e para a educação não formal.

Pouca atenção tem vindo a ser dada a esta dimensão, porque não estamos a falar de reconhecimento de competências ou atingir níveis superiores de qualificação (dimensões sempre mais voltadas para a questão da empregabilidade) mas sim de capacitar e empoderar os cidadãos.

O investimento nestas áreas (da educação, da cultura, da participação) é tanto mais necessário quando passamos por tempos em que temos de nos preparar para a cidadania digital.

A esquerda tem de preparar e antecipar esse momento que começa a estar presente no nosso quotidiano.

A política e a acção política foram concebidas numa base de presença e “confronto” material, em que a participação do cidadão quase se limitava à participação eleitoral.

A realidade actual tem de assentar num novo olhar porque diariamente podemos participar e agir a partir dos mais diversos dispositivos.

Os processos decisórios surgirão cada vez mais a partir do papel das redes, que são complexas, incertas e volúveis.

A participação tenderá a ser cada vez menos política/ ideológica e cada vez mais complexa e baseada em conexões.

A boa saúde da democracia pode ser avaliada pelos níveis de participação nos períodos entre eleições e o aumento desses níveis de participação só se pode fazer com uma população mais capacitada.

Os fenómenos populistas e a eleição de pseudo-lideres acontece mais facilmente junto de sociedades com níveis culturais mais baixos.

Por tudo isto e para que um projecto de transformação social possa ocorrer é imperativo que o BE dê ainda mais atenção à capacitação e empoderamento da população adulta.

 

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