Contra a higienização académica do racismo e fascismo do Chega

Num Manifesto público, largas dezenas de investigadores e investigadoras defendem “que a produção de conhecimento académico não se coaduna com propósitos de normalização, legitimação e branqueamento de um partido racista e com desígnios antidemocráticos. Os métodos científicos remetem para apropriações críticas, não devem servir para disfarçar o viés político sob uma suposta neutralidade científica. Ver para além das fachadas, relacionar, cotejar o que é dito com o que é feito, encontrar contradições, desocultar – eis os desafios de um trabalho científico exigente e consciente da sua responsabilidade na construção de sociedades mais justas e igualitárias.”

O lançamento deste Manifesto — subscrito por nomes como Fernando Rosas, Ana Benavente Manuel Carlos e Silva e Boaventura Sousa Santos — foi suscitado pelo recente lançamento de um livro de Ricardo Marchi, sobre o Chega, partido que o autor não considera racista nem de extrema-direita.

Os autores do Manifesto repudiam o que consideram “uma normalização e branqueamento da face antidemocrática e racista daquela força política”, visando “higienizar a imagem do Chega e de André Ventura.”

“A promiscuidade com o Movimento Zero, a utilização de milhares de perfis falsos nas redes sociais, as propostas de castração química, prisão perpétua, trabalho forçado para reclusos, confinamento de comunidades racializadas, extinção dos serviços públicos que visam garantir a universalidade de direitos como a Educação e Saúde, e até mesmo a proposta de uma IV República, são apresentadas como se fossem apenas medidas de reforma profunda, que não violam as regras do jogo democrático tal como as temos estabelecidas constitucionalmente.”

Os subscritores deste importante texto recordam as sistemáticas posições racistas do Chega, nomeadamente contra ciganos, e a evidência das suas ligações a grupos de extrema direita a neonazis, suportados por criminosos condenados por crimes graves, como assassinatos.

O texto completo do Manifesto pode ser lido aqui

Neonazis financiados por prostituição e droga

Entretanto, na sua mais recente edição, o semanário Expresso revela que “Negócios ilícitos que incluem venda de armas, droga, sucata e prostituição são uma das principais fontes de financiamento da extrema direita portuguesa”

 

Foto de BockoPix on VisualHunt

2 comentários em “Contra a higienização académica do racismo e fascismo do Chega”

  1. Pelo que tenho lido nos jornais, o livro escrito por Ricardo Marchi seria em princípio um manual de leitura obrigatória para os votantes no ‘Chega’ terem à mão e poderem soltar umas frases para justificar a sua opção partidária e serviria igualmente para lavar a consciência daquela direita que, por pudor, não diz publicamente que aprova o que A.Ventura defende.
    Isto de pensar uma coisa e dizer (ou escrever) outra, acontece a muitos; o próprio A.Ventura escreve uma tese académica para depois vir pública e impudicamente praticar o seu contrário.
    Não me interessa saber em pormenor o que o senhor Ricardo M. escreveu no tal livro. Sinceramente não me incomoda nada que tente justificar o que o líder do ‘Chega’ diz ou faz; toda a gente que ouve ou lê as opiniões, alarvidades ou ‘boutades’ do senhor A. Ventura, tem a sua opinião formada e não são ‘exercícios de estilo’ mais ou menos intelectualizados, que vão mudar a sua opinião.
    Sinceramente parece-me que se está a dar demasiada importância ao livro e ao seu autor que, provavelmente, nem sonhava que iria ter direito a novas edições, graças à preciosa e gratuita promoção que lhe estão a dispensar.
    Se o tal livro foi apresentado num canal de televisão e em entrevista, é um direito que assiste ao canal e ao entrevistado e, que eu saiba, não foi feita apologia de algo anti-constitucional.
    Não há felizmente em Portugal uma espécie de ‘Index’ sobre escritos ou autores que podem ou não ser publicitados e não me parece nada saudável que cada vez que um livro de cariz político seja apresentado publicamente, tenha de estar presente alguém militantemente disposto a pôr em causa o que foi escrito, discutindo e rebatendo parágrafo a parágrafo as opiniões do autor.
    Embora compreenda a indignação de muitos democratas e lutadores anti-fascistas (não contra a pessoa do autor, mas pela sua tentativa(?) de branquear o tal partido ‘Chega’), parece-me que se está a entrar num jogo que convém exactamente a A.Ventura, com toda a publicidade que lhe é dada pelo ‘manifesto’.

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  2. Li hoje uma entrevista de M. ao DN.
    Entre várias pérolas afirma o sr Ricardo M.: “Eu sou cientista e sei que quando se descreve um facto histórico ou político há pouco a fazer”.
    O sr Ricardo M. considerar-se um cientista é uma convicção (ou, vamos lá, um convencimento porventura sincero) que ele tem, mas ao afirmar que quando se descreve um facto histórico ou político se é inevitavelmente objectivo, está a negar a tal formação científica que diz ter!
    Não perceberá que a descrição de qualquer facto é sempre uma interpretação subjectiva, deformada por preconceitos, enviesamento de perspectiva, falta de informação, incertezas, ingenuidade ou até simples ignorância?

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