“Será muito difícil, no século XXI, pedir que se encontre uma localização adequada para o aeroporto de Lisboa que não tenha efeitos desproporcionados nos ecossistemas e na saúde das pessoas?”, lê-se no manifesto, publicado no jornal “Público”, sobre a construção de um novo aeroporto no Montijo. Entre os subscritores constam nomes como Ana Zanatti, António Pedro Vasconcelos, Camané, Carlos do Carmo, Carlos Marques, Carlos Tê, Carmo Bica, Domingos Lopes, Eugénio Sequeira, Francisco Ferreira, Garcia Pereira, Mário Tomé, Nunes da Silva, Pedro Soares, Rui Cunha ou Viriato Soromenho Marques.
Indicando que a Avaliação de Impacte Ambiental sobre a construção de um novo aeroporto no Montijo está em consulta pública até 19 de setembro, os signatários apelam para o contributo da população e das entidades competentes “para ajudar o poder executivo a corrigir a sua visão sobre este projeto insensato”, considerando que tal pode condicionar a vida dos portugueses durante os próximos 40 anos. “É essencial avaliar as diferentes alternativas de modo a selecionar aquela que responde, não às exigências das companhias ‘low-cost’ e da multinacional Vinci, mas às necessidades de segurança aérea, de promoção da saúde pública e da biodiversidade, de integração na rede ferroviária e de mitigação e adaptação às alterações climáticas.”
Os subscritores chamam à atenção para os “três milhões de voos de aves no corredor de aproximação à pista norte”, registados durante um ano, assim como a poluição sonora e os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente a subida do nível do mar, com impacto no estuário do Tejo, que “colocará em risco a viabilidade da infraestrutura aeroportuária”. “O estudo de impacte ambiental torna evidente que os impactos negativos são mais significativos que os impactos positivos.
Quanto à definição de uma nova localização, os signatários consideram que “a decisão tem de ser tomada de forma sistemática, recorrendo a uma avaliação ambiental estratégica, como prevê a legislação nacional e comunitária”, ou seja, equacionando comparativamente as várias possibilidades e os respectivos impactes.
O manifesto recorda que a expansão do aeroporto da Portela, em Lisboa, não foi alvo de Avaliação de Impacte Ambiental e refere a decisão do Governo britânico, em 2014, de abandonar a ideia de construir em Londres um novo aeroporto numa zona de estuário, “por representar um risco desproporcionado para os passageiros aéreos e ser difícil de compaginar com as normas europeias de conservação da natureza”. Ora o estuário do Tejo é considerado um dos mais importantes para os sistemas ecológicos a nível europeu, nomeadamente em termos de avifauna.

De facto, há “três milhões de voos de aves no corredor de aproximação à pista norte”, registados durante um ano, assim como a poluição sonora e os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente a subida do nível do mar, com impacto no estuário do Tejo, que “colocará em risco a viabilidade da infraestrutura aeroportuária”. “O estudo de impacte ambiental torna evidente que os impactos negativos são mais significativos que os impactos positivos, pelo que é expectável o chumbo do projeto pela APA, mas, mesmo que a decisão fosse favorável, os promotores teriam de realizar um estudo mais completo sobre o risco de colisão com aves”, referem os signatários.
Além da localização do Montijo, o manifesto critica o projeto de expansão do atual aeroporto de Lisboa, interrogando-se sobre o futuro do turismo, da mobilidade e do direito à habitação e à cidade. “As estatísticas mostram que, na última década, os aeroportos de Paris, Madrid, Munique e Roma transportaram mais passageiros com menos aviões. Se a melhoria da qualidade de vida para todos permitir receber mais turistas, é possível fazê-lo mantendo ou reduzindo o tráfego aéreo”, é adiantado no manifesto, propondo outras formas de mobilidade, inclusive o transporte ferroviário.
Consideram os subscritores que “Neste momento, é praticamente um dado adquirido que teremos uma travessia entre Chelas e o Barreiro, ligando Lisboa a Madrid e às redes ferroviárias transeuropeias num tempo razoável, como parte do combate à emergência climática. Enquanto essa travessia dificilmente se pode articular com o sistema Portela+Montijo, ela permitirá ligar de forma rápida e eficiente a cidade de Lisboa a uma alternativa aeroportuária mais sustentável.”
A solução Montijo, além dos problemas da perturbação para pessoas da margem Sul e do risco de catástrofe resultante de uma eventual colisão com aves, é dinheiro deitado à rua (a menos que haja interessados em que tantos milhões não sejam propriamente deitados no esgoto…).
Quem nos explica porquê, não são ecologistas, mas sim técnicos:
um ex-presidente do LNEC e antigo bastonário dos engenheiros, Carlos Matias Ramos;
um general engenheiro de aeródromos, Carlos Brás;
um controlador de tráfego aéreo e ex-diretor de navegação aérea da ANA, Jaime Valadares;
um piloto aviador e gestor operacional de aeroportos, João Ivo da Silva
Eles explicam como esta aberração não resolve nada de futuro e está condenada a esgotar-se em 20 anos ou até menos.
Está tudo bem explicadinho em:
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/13-jul-2019/novo-aeroporto-no-montijo-sera-solucao-esgotada-entre-2030-e-2035-11107499.html
Porque a decisão ambiental sobre o aeroporto do Montijo foi ontem conhecida, permito-me insistir no assunto.
No dia 06 de Fevereiro deste ano, em entrevista publicada num jornal digital, dizia o então ministro Pedro Marques (que por sinal é do Montijo):
“… não haverá ligação ferroviária ao aeroporto complementar, o que está previsto é o reforço das ligações fluviais a Lisboa e criação de uma faixa dedicada no tabuleiro da Vasco da Gama para uma navete de serviço exclusivo ao aeroporto e que, no futuro, até pode ser elétrica”.
Não quero estar a “bater no ceguinho” mas um shuttle eléctrico (ou a petróleo) leva quantas pessoas? 40?
E onde vão as 60, 80 ou mais malas? Na ‘navete’?
Ou o Pedro Marques estaria a falar em ‘navete’ mas a pensar num autocarro de turismo tipo ‘autopullman’ com capacidade para 60 ou 70 pessoas e bagagem?
E saberá quantas pessoas leva um A330? Por cada voo que chegue ao Montijo, temos de contar com 5 (cinco) desses autocarros gigantes para os transportar para Lisboa, porque obviamente escandinavos, brasileiros e chineses acabados de chegar, não vieram para visitar o Montijo! E em simultâneo outros tantos autocarros terão de ir de Lisboa para o Montijo, levando outros 300 passageiros que lá vão embarcar!
Agora considerem-se os 24 voos/hora previstos para o aeroporto do Montijo e mesmo pensando em aeronaves de menor porte de voos continentais (com uma média de 200 passageiros por voo), isso representará por hora um mínimo de 160 autocarros na Vasco da Gama, somando os dois sentidos. Porque 24 voos por hora, significa que tanto há passageiros chegados a transportar para Lisboa (12 voos X 200 passageiros e malas), como outros tantos que irão de Lisboa para embarcar no Montijo!
Mas isso é uma fila contínua! E isto tudo na tal ‘faixa dedicada’? Ou afinal teriam de ser duas faixas? Ou toda a ponte?
E se um desses monstros tem um problema mecânico? Pára a “faixa dedicada” do Pedro Marques e formam-se filas quilométricas de autocarros e dezenas de aviões às voltas à espera de pista?! E ficam às voltas perto da rota dos que estão em fila para a 03 do Humberto Delgado?
Desculpem o desabafo, mas parece que a questão da travessia do Tejo com um aeroporto no Montijo, está a ser falada como se os autores fossem miúdos duma escola básica a mandar palpites sem saberem a tabuada e sem uma calculadora.
Há negócios que se parecem com… ‘negócios’!
Hoje surge no jornal Público mais uma declaração de um dos técnicos que referi no 1º comentário: Carlos Matias Ramos, engenheiro, ex-presidente do LNEC e ex-bastonário dos engenheiros.
E claro que insiste naquilo que é tecnicamente defensável e que, ao contrário das evasivas das ‘entidades oficiais’, escreve de forma bem clara:
“Vamos a factos. O projecto do Novo Aeroporto da Lisboa (NAL) no Campo de Tiro de Alcochete (CTA) foi elaborado pela ANA em 2010. Tem uma Declaração de Impacto Ambiental (DIA) válida desde esse ano. Desde essa data estavam reunidas todas as condições para que fosse iniciado o processo de construção. Permitiria a construção em quatro fases, tendo a primeira fase os elementos funcionais equivalentes, em termos de dimensão e custos, à solução prevista para o Montijo.
O Contrato de Concessão entre o Estado e a Vinci foi assinado em Dezembro de 2012. No artigo 42.1, estabelece que “A Concessionária (Vinci) deve envidar os melhores esforços para maximizar a capacidade operacional das Infra-Estruturas Aeroportuárias do Aeroporto da Portela até à abertura do NAL”, ou seja, do aeroporto no CTA.”
Já se fizeram abaixo-assinados e manifestações, com resultado prático zero.
Uma pergunta se impõe:
O que responderá o governo ao ser confrontado na AR com estes factos?
Exibirá algum documento que desminta estas afirmações?