Cientistas de vários países reunidos em Coimbra afirmam que, perante o degelo na Antártida, “temos de agir na próxima década, temos dez anos para ir a tempo”. José Xavier, investigador do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE), frisa que os efeitos do aquecimento global “estão a acelerar de uma maneira tão grande” que é urgente uma “mensagem muito forte” aos líderes políticos para uma reação imediata global às alterações climáticas.
“Temos de fazer alguma coisa nestes dez anos, mas tem de ser de imediato”, disse à agência Lusa José Xavier, o único português que integra o programa SCAR AnT-ERA. Estas declarações confirmam a situação de emergência climática e a insuficiência do “Roteiro para a neutralidade carbónica” aprovado pelo Governo português que prevê fechar as centrais a carvão apenas em 2030 e atingir a neutralidade carbónica só em 2050.
A falta de compromissos dos Estados para que as metas do Acordo de Paris sejam alcançadas não se coaduna com este quadro de emergência climática. Os interesses do sistema continuam a sobrepor-se.
“Teremos uma mensagem muito forte para a comunidade política”, disse José Xavier, indicando que os cientistas polares estão a analisar os factos e dirão aos dirigentes mundiais “o que está a acontecer” na região da Antártida. No âmbito do programa SCAR AnT-ERA, os académicos “avaliam os grandes desenvolvimentos científicos” neste domínio, procurando perceber em que medida e “quais os seres vivos que se vão adaptar e quais se vãos extinguir” devido às mudanças do clima na Terra.
Os factos científicos apurados pelo programa SCAR AnT-ERA devem pesar nas políticas ambientais e de gestão dos recursos marinhos que vierem a ser adotadas pelos diferentes governos e organizações internacionais. A comunidade científica prevê que o nível dos oceanos suba em média 27 centímetros em todo o mundo, nos próximos 50 anos, devido ao degelo que ocorre da Antártida. Apesar de alguns impactos serem já irreversíveis, “é ainda possível” travar a subida das águas para cerca de 20 centímetros. Mas os Estados “têm de agir de imediato” e aplicar em conjunto as medidas necessárias, defendeu José Xavier.