A Democracia(também) se pratica…

Um partido que se reclama de esquerda é um partido em que o seu principal valor assenta na democracia. Isto é: a sua política está focada no funcionamento de todo o poder do Estado central às autarquias, bem como todas as organizações da sociedade civil funcionam com base no exercício da democracia por parte de todas e todos as cidadãs e cidadãos, nas respectivas eleições, nas suas decisões e no seu próprio funcionamento interno.

No quadro político em Portugal, vários são os partidos e organizações que se reclamam de esquerda, mas para a grande maioria deles apenas o rótulo de esquerda é só para se distanciarem prosaicamente de outros, exemplo: o PS do PSD. Sendo o PS um partido que ao longo da sua história mostrou que a sua democracia é a democracia aonde cabem “todos” e que a sua principal essência “democrática” é confluir com a promiscuidade entre a política e negócios. E a sua alternância democrática é a do rolar de ministros para gestores e de gestores para ministros, fazendo acordos pontuais entre a esquerda e a direita, de acordo com as suas conveniências do momento.

A nível do poder local, verifica-se ainda mais que as práticas no exercício do poder nas autarquias, PS, PSD, CDS e mesmo CDU, nas “suas” Câmaras e Juntas de Freguesia, as práticas assemelham-se no caciquismo, clientelismo, coação e chantagem do medo, etc, em particular no interior.

Como a generalidade das pessoas sabem, o PCP tem a sua própria concepção da democracia, em particular da sua própria democracia interna. Pode não se concordar, mas tem de se respeitar pois cabe ao próprio PCP e seus militantes decidirem como deve ser o seu funcionamento democrático. Assim, não nos admiremos que não raras vezes o PCP aparece com posições contraditórias com os valores da esquerda e que no seu discurso generalista defende.

Uma das grandes lições retiradas por alguns partidos ditos à esquerda do PCP após a queda do “Leste” foi a do chamado centralismo “democrático” como o principal bloqueador da democracia interna dos próprios partidos e um dos principais causadores da burocratização desses partidos, ao assentarem toda a sua cadeia de direcção na funcionalização da organização politica através de uma rede de funcionários que se substituíram a dinâmica politica das suas organizações intermédias, transmitindo as ordens de cima e controlavam toda a máquina partidária aniquilando por via disso toda e qualquer massa crítica existente no partido, dando lugar ao clima de medo e da subserviência dos dirigentes intermédios e das bases.

Com este método de direção os funcionários são transformados em meros comissários políticos de dirigentes e de quadros “superiores” mais “zelosos” fomentando um centralismo atroz contribuindo desta forma para a degenerescência partidária. Esta tem sido sem dúvida uma das principais não lições do PCP em relação aos Partidos Comunistas da Europa do Leste e daí um dos grandes efeitos na sua corrosão interna

A história tem-nos vindo a ensinar que quando organizações de certas esquerdas atingiram o poder se prostituíram politicamente e abriram espaço à corrupção, levando ao descrédito junto das grandes massas e com isso abriram as portas à direita e à extrema-direita — sendo o exemplo mais recente a eleição do Bolsonaro no Brasil. Ou até criaram um certo “poder”, onde aparecem os tiques de quem quer ser o “dono” desse poder, nem que seja só para “lamber” os dedos, se mais nada não conseguir… Mostram-se os mais “competentes” e empenhados nos objectivos da sua força politica; são eles os mais capazes para colocarem em prática a estratégia e a táctica do seu partido e até já fazem o discurso de “Estadista” mas só para consumo interno, sim, porque lá fora a sua credibilidade ainda não se vê acima do zero.

Internamente dão ordens e decidem já como “donos” do poder: “tu fazes isto”, “tu vais para ali” e “tu não contas para nada”. Fazem jogos de poder, dão benesses, comprando-lhes o silêncio e a complacência. Aos outros, que não estão dispostos a aceitar estas práticas venenosas e politicamente criminosas para a própria organização, sacode-os como uma purga interna. Parece que para certas pessoas só há democracia quando se está de acordo com elas e se presta a devida vassalagem. Mas atenção: daquelas bocas continuam a sair os maiores gritos pela democracia … não deixa de ser curioso que por vezes quem mais clama pela democracia e pela unidade, na prática faça todo o seu contrário. Lenine já o dizia: “a prática é o critério da verdade”.

Há aqui um pormenor que faz toda a diferença: A democracia (também) se pratica em todo o lado e em toda a parte e o exemplo deve vir dos de cima.

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